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O preço da sustentabilidade é a eterna vigilância

O preço da sustentabilidade é a eterna vigilância

A COP 27, no Egito, colocou em pauta a longa distância entre as promessas e as ações que vêm sendo efetivamente tomadas para frear o aquecimento global. Na luta contra as mudanças climáticas, há medidas de sustentabilidade capazes de contribuir com a meta de manter a elevação da temperatura média global abaixo de 2°C. Colocá-las em prática de modo efetivo tem sido um compromisso assumido por organizações e governos em todo o planeta.

Um exemplo icônico disso é a obrigação a que se sujeitam os países signatários do Acordo de Paris de 2015 para, a cada cinco anos, entregarem relatórios sobre ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e para adaptação aos impactos das mudanças climáticas.

Todavia, um passo pretendido pela União Europeia (UE) pode expor Países e corporações com práticas diferentes do que descrevem em seus relatórios. Em três ou quatro anos, a UE deve lançar o Copernicus Anthropogenic CO2 Monitoring Mission (CO2M), para rastrear emissões de carbono (CO2).

Além de monitorar nações, o projeto terá foco em emissores individuais de grande escala, como usinas de energia, fábricas, conglomerados urbanos. Os dados da governança europeia apontam que esse conjunto de superemissores é responsável por quase metade das emissões de GEE.

Ou seja, a partir dessa novidade, a frase atribuída a Thomas Jefferson – “O preço da liberdade é a eterna vigilância” – pode ser contextualizada e atualizada para: “O preço da sustentabilidade é a eterna vigilância”.

O grande ganho desse projeto, apontam os especialistas, é a possibilidade de expansão do modelo para uso com demais satélites já em órbita. Outro ganho é o detalhamento das fontes emissoras, apontando com dados e cronologia de onde vêm as emissões de CO2.

Esse modo disruptivo de fazer as medições partiu da série de missões OCO (Orbiting Carbon Observatory), planejadas para medir as emissões de carbono em escalas espaciais volumosas.

A partir desse ponto, uma equipe do Environment and Climate Change Canada começou a trabalhar em meios para utilizar o satélite OCO-2 (lançado em 2014 pela NASA) e o instrumento OCO-3, anexado desde 2019 à Estação Espacial Internacional (ISS). Com a análise de dados coletados por cinco anos, essa equipe demonstrou que é possível direcionar com mais foco as medições dos equipamentos OCO, alcançando boa precisão para medir a quantidade de CO2 emitida por uma usina ou fábrica.

Assim, a União Europeia está planejando a implementação do Programa CO2M, com uma estrutura cerca de cem vezes maior do que OCO-2 e OCO-3. Esse novo sistema deve agregar dados para direcionar esforços de redução das emissões de gases do efeito estufa de forma mais eficaz.

Identificar os emissores com precisão é uma medida fundamental para desencadear ações rápidas e com foco em aspectos práticos, como a substituição de matérias primas e processos fabris. Além disso, abre-se a possibilidade de individualização das sanções impostas com o propósito de acelerar processos de transição energética e o abandono dos combustíveis fósseis.

Nesse campo regulatório e de eventuais sanções, outro aspecto positivo é a possibilidade de separar o joio do trigo, evitando punições genéricas por falta de informação sobre os verdadeiros responsáveis pelo problema.